Educação Tecnológica: o que Freire tem a ver com isso?
Francinete Braga Santos (1)
O presente texto apresenta reflexões a partir da leitura da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire com recorte da 2ª parte do livro: Ensinar não é transferir conhecimento. Por esta via, em uma abordagem dialógico-reflexiva, questiona-se: Como sonhar sonhos possíveis? Como articular o pensamento de Freire ao processo de formação tecnológica do professor? Como na formação professor realizar uma prática educativo-progressista em favor da autonomia do ser dos educandos? No encaminhamento de possíveis respostas, inicia-se com uma breve contextualização teórico-conceitual.A tecnologia educacional é fundamentalmente a relação entre a tecnologia e a educação que se concretiza em conjunto dinâmico e aberto de princípios e processos de ação educativa, sendo esta a dimensão política da tecnologia educacional.Para Freire, por sua vez, educação é sempre um ato político, sendo que sempre esteve a serviço das classes dominantes, notadamente na educação brasileira, em que o autoritarismo presente na crença inabalável das previsões fatais e infalíveis da racionalidade científica ou da razão instrumental/positivista.Neste contexto, pensar em educação sem destacar o protagonismo da atuação do professor é desconsiderar o papel de agente de transformação desse determinismo que se impõe aos processos educacionais. Então, há de se cuidar da formação do professor e que seja contínua e que seja progessista.A discussão em torno da formação professor deve ser analisada no contexto da evolução e da modernização da sociedade do século XXI que tem influenciado fortemente o planejamento e a prática da educação escolar. Não há como desconsiderar que a tecnologia está cada vez mais presente na vida dos sujeitos em atividades diárias. Assim, percebe-se que há necessidade de profundas mudanças, entre elas, o desafio de formar* melhor o profissional da educação, tanto para o mercado de trabalho como para a sociedade cultural em geral.Quanto a Paulo Freire, é sabido por meio de relatos e depoimentos em entrevistas que manteve certo distanciamento dos recursos tecnológicos, utilizando-se de sua máquina de datilografar e que dispensou o uso de celulares. Por outro lado, como cidadão do mundo, não se manteve alheio a realidade das transformações tecnológicas, por isso afirmou:nunca fui ingênuo apreciador da tecnologia: não a divinizo, de um lado, nem a diabolizo,de outro. Por isso mesmo sempre estive em paz para lidar com ela. Não tenho dúvidanenhuma do enorme potencial de estímulos e desafios à curiosidade que a tecnologiapõe a serviço das crianças e adolescentes das classes sociais chamadasdesfavorecidas. (FREIRE, 2001, p.97-98).
Além desse fato, é sabido também da defesa de Freire pela escola de qualidade, em especial, da escola pública de qualidade. Enquanto, secretário de Educação da cidade de São Paulo, na gestão da Prefeita Erundina (PT), fez chegar à rede das escolas municipais o computador, bem como a promoção de programas de capacitação professor para lidar com a tecnologia.É fato que as tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) chegam gradativamente às escolas e apesar da defasagem de quantidade e de tempo ainda encontram professores com sentimentos confusos e conflitantes como a satisfação de estar participando de uma realidade tecnológica, até pouco tempo futurística; a ansiedade por descobrir tudo que pode ser feito com as máquinas; a sensação de não ‘levar jeito’ com essas tecnologias ou, ainda, o medo de enfrentar as mudanças que chegam com a informática educativa.Para que essas tão almejadas mudanças aconteçam é necessário ambientes educativos que sejam capazes de impactar os conhecimentos apreendidos assim como desenvolver a autonomia no pensamento crítico dos sujeitos envolvidos no processo ensino e aprendizagem. É nesse contexto da pós-modernidade que os profissionais da educação precisam atuar, em um cenário de novos desafios.Mas, ensinar não é transferir conhecimento. Então, a atitude de sonhar sonhos possíveis deve articular formação tecnológica do professor, sendo suas práticas colocadas frente ao desafio da superação dos modelos tradicionais de ensino rumo a um novo cenário que incorpore os avanços tecnológicos aos processos da escola, em especial da sala de aula.“A prática do professor especificamente humana, é profundamente formadora, por isso, ética” e mais “a natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublinha a maneira como a realiza” (idem, p.65). E ao abordar o caráter formador do professor, tem-se que percebê-lo incompleto, inacabado e em permanente formação.Daí cabe afirmar que ensinar exige humildade, sendo entendida como um momento importante da prática professor, enquanto prática ética. E parafraseando Freire, não se pode respeitar a curiosidade do educando, estando-se carente de humildade e da real compreensão do papel da ignorância na busca do saber, temendo-se revelar o desconhecimento de determinados conteúdos ou instrumentos, tais como: a aprendizagem mediada por computadores e a respectiva utilização dos seus aplicativos e periféricos.A defesa é que a prática educativa “demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina” (ibid., p.69). Portanto, situar o computador na perspectiva do espaço educativo é buscar respostas ao ensino voltado à formação integral das pessoas envolvidas no processo e, por conseguinte, repensar a abordagem que vem sendo dada ao domínio dos conteúdos de aprendizagem pelo professor frente ao conhecimento trazido pelo aluno com “o respeito devido à dignidade do educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz consigo para a escola.” (ibid.,p.71).O professor capaz de interagir com o aluno agirá adequadamente nas situações em que o aprender a aprender com os alunos cria um ambiente colaborativo, redefine a relação pedagógica com base no diálogo e na troca. Na formação professor a prática educativo-progressista deverá está a favor da autonomia do ser dos educandos, exigindo do professor uma prática em tudo coerente com os saberes dos alunos, independentemente da faixa etária, da classe social a que pertença, da cor da sua pele, da sua linguagem.O professor enquanto consciente da sua existência, tomar-se-á na sua incompletude, a tomada de consciência crítica para a partir daí estabelecer dialogicidade com os seus alunos, enquanto seres humanos inconclusos. Esses “sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos.”(ibid.,p.69).Ser ético, portanto, é lutar contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação, bem como combatendo posturas antiprofissionais, para tornar-se um profissional idôneo, exercendo com competência o seu ofício e organizando-se em lutas políticas em prol da formação permanente, melhorias de salariais e de condições de trabalho.E, por fim, os professores precisam ter disposição constante para estudar. A necessidade de estudo constante é reforçada pela prática da pesquisa para assim o homem usufruir da imensa quantidade de conhecimentos e possibilidades de aprender, que inevitavelmente ampliarão a capacidade crítica e criativa do professor, livrando-o da tendência à cópia e reprodução de conhecimentos prontos.NOTA:* Formar é utilizado pela ausência de um termo mais apropriado. A autora investiga a substituição pelo termo emancipar, no sentido mesmo da emancipação docente – tornar-se livre, independente frente ao conhecimento inicial e continuado.
(1) Pedagoga. Pós-graduada em Administração Escolar, Psicopedagogia e Informática na Educação. Mestranda da UEP (Universidade Evangélica do Paraguai) e Doutorando da UMa (Universidade da Madeira, em Portugal).Diretora Pedagógica do Colégio O Bom Pastor Júnior.
REFERÊNCIAFREIRE, Paulo. A Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 18.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
Francinete Braga Santos (1)
O presente texto apresenta reflexões a partir da leitura da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire com recorte da 2ª parte do livro: Ensinar não é transferir conhecimento. Por esta via, em uma abordagem dialógico-reflexiva, questiona-se: Como sonhar sonhos possíveis? Como articular o pensamento de Freire ao processo de formação tecnológica do professor? Como na formação professor realizar uma prática educativo-progressista em favor da autonomia do ser dos educandos? No encaminhamento de possíveis respostas, inicia-se com uma breve contextualização teórico-conceitual.A tecnologia educacional é fundamentalmente a relação entre a tecnologia e a educação que se concretiza em conjunto dinâmico e aberto de princípios e processos de ação educativa, sendo esta a dimensão política da tecnologia educacional.Para Freire, por sua vez, educação é sempre um ato político, sendo que sempre esteve a serviço das classes dominantes, notadamente na educação brasileira, em que o autoritarismo presente na crença inabalável das previsões fatais e infalíveis da racionalidade científica ou da razão instrumental/positivista.Neste contexto, pensar em educação sem destacar o protagonismo da atuação do professor é desconsiderar o papel de agente de transformação desse determinismo que se impõe aos processos educacionais. Então, há de se cuidar da formação do professor e que seja contínua e que seja progessista.A discussão em torno da formação professor deve ser analisada no contexto da evolução e da modernização da sociedade do século XXI que tem influenciado fortemente o planejamento e a prática da educação escolar. Não há como desconsiderar que a tecnologia está cada vez mais presente na vida dos sujeitos em atividades diárias. Assim, percebe-se que há necessidade de profundas mudanças, entre elas, o desafio de formar* melhor o profissional da educação, tanto para o mercado de trabalho como para a sociedade cultural em geral.Quanto a Paulo Freire, é sabido por meio de relatos e depoimentos em entrevistas que manteve certo distanciamento dos recursos tecnológicos, utilizando-se de sua máquina de datilografar e que dispensou o uso de celulares. Por outro lado, como cidadão do mundo, não se manteve alheio a realidade das transformações tecnológicas, por isso afirmou:nunca fui ingênuo apreciador da tecnologia: não a divinizo, de um lado, nem a diabolizo,de outro. Por isso mesmo sempre estive em paz para lidar com ela. Não tenho dúvidanenhuma do enorme potencial de estímulos e desafios à curiosidade que a tecnologiapõe a serviço das crianças e adolescentes das classes sociais chamadasdesfavorecidas. (FREIRE, 2001, p.97-98).
Além desse fato, é sabido também da defesa de Freire pela escola de qualidade, em especial, da escola pública de qualidade. Enquanto, secretário de Educação da cidade de São Paulo, na gestão da Prefeita Erundina (PT), fez chegar à rede das escolas municipais o computador, bem como a promoção de programas de capacitação professor para lidar com a tecnologia.É fato que as tecnologias da informação e comunicação (TIC’s) chegam gradativamente às escolas e apesar da defasagem de quantidade e de tempo ainda encontram professores com sentimentos confusos e conflitantes como a satisfação de estar participando de uma realidade tecnológica, até pouco tempo futurística; a ansiedade por descobrir tudo que pode ser feito com as máquinas; a sensação de não ‘levar jeito’ com essas tecnologias ou, ainda, o medo de enfrentar as mudanças que chegam com a informática educativa.Para que essas tão almejadas mudanças aconteçam é necessário ambientes educativos que sejam capazes de impactar os conhecimentos apreendidos assim como desenvolver a autonomia no pensamento crítico dos sujeitos envolvidos no processo ensino e aprendizagem. É nesse contexto da pós-modernidade que os profissionais da educação precisam atuar, em um cenário de novos desafios.Mas, ensinar não é transferir conhecimento. Então, a atitude de sonhar sonhos possíveis deve articular formação tecnológica do professor, sendo suas práticas colocadas frente ao desafio da superação dos modelos tradicionais de ensino rumo a um novo cenário que incorpore os avanços tecnológicos aos processos da escola, em especial da sala de aula.“A prática do professor especificamente humana, é profundamente formadora, por isso, ética” e mais “a natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublinha a maneira como a realiza” (idem, p.65). E ao abordar o caráter formador do professor, tem-se que percebê-lo incompleto, inacabado e em permanente formação.Daí cabe afirmar que ensinar exige humildade, sendo entendida como um momento importante da prática professor, enquanto prática ética. E parafraseando Freire, não se pode respeitar a curiosidade do educando, estando-se carente de humildade e da real compreensão do papel da ignorância na busca do saber, temendo-se revelar o desconhecimento de determinados conteúdos ou instrumentos, tais como: a aprendizagem mediada por computadores e a respectiva utilização dos seus aplicativos e periféricos.A defesa é que a prática educativa “demanda a existência de sujeitos, um que, ensinando, aprende, outro que, aprendendo, ensina” (ibid., p.69). Portanto, situar o computador na perspectiva do espaço educativo é buscar respostas ao ensino voltado à formação integral das pessoas envolvidas no processo e, por conseguinte, repensar a abordagem que vem sendo dada ao domínio dos conteúdos de aprendizagem pelo professor frente ao conhecimento trazido pelo aluno com “o respeito devido à dignidade do educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz consigo para a escola.” (ibid.,p.71).O professor capaz de interagir com o aluno agirá adequadamente nas situações em que o aprender a aprender com os alunos cria um ambiente colaborativo, redefine a relação pedagógica com base no diálogo e na troca. Na formação professor a prática educativo-progressista deverá está a favor da autonomia do ser dos educandos, exigindo do professor uma prática em tudo coerente com os saberes dos alunos, independentemente da faixa etária, da classe social a que pertença, da cor da sua pele, da sua linguagem.O professor enquanto consciente da sua existência, tomar-se-á na sua incompletude, a tomada de consciência crítica para a partir daí estabelecer dialogicidade com os seus alunos, enquanto seres humanos inconclusos. Esses “sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos.”(ibid.,p.69).Ser ético, portanto, é lutar contra o desrespeito dos poderes públicos pela educação, bem como combatendo posturas antiprofissionais, para tornar-se um profissional idôneo, exercendo com competência o seu ofício e organizando-se em lutas políticas em prol da formação permanente, melhorias de salariais e de condições de trabalho.E, por fim, os professores precisam ter disposição constante para estudar. A necessidade de estudo constante é reforçada pela prática da pesquisa para assim o homem usufruir da imensa quantidade de conhecimentos e possibilidades de aprender, que inevitavelmente ampliarão a capacidade crítica e criativa do professor, livrando-o da tendência à cópia e reprodução de conhecimentos prontos.NOTA:* Formar é utilizado pela ausência de um termo mais apropriado. A autora investiga a substituição pelo termo emancipar, no sentido mesmo da emancipação docente – tornar-se livre, independente frente ao conhecimento inicial e continuado.
(1) Pedagoga. Pós-graduada em Administração Escolar, Psicopedagogia e Informática na Educação. Mestranda da UEP (Universidade Evangélica do Paraguai) e Doutorando da UMa (Universidade da Madeira, em Portugal).Diretora Pedagógica do Colégio O Bom Pastor Júnior.
REFERÊNCIAFREIRE, Paulo. A Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 18.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
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